Geralmente tratado por muitos como um bicho de sete-cabeças, o tal “Fluxo de Caixa” é, na verdade, nosso grande aliado na gestão dos recursos financeiros, e certamente mais simples e eficiente do que parece.
Trata-se de um instrumento financeiro utilizado pelas empresas e pessoas em geral, que possibilita acompanhamento, controle e planejamento da movimentação de dinheiro que entra e sai de nossas contas.
Com ele podemos exercitar nossa capacidade de prever para que direção estamos indo, e com isso tomar decisões financeiras mais assertivas em relação ao futuro desafiador que iremos enfrentar.
Regime de Caixa ou Competência?
Estamos falando aqui do famoso “Caixa” ou “Regime de Caixa”, um conceito financeiro que leva em conta o que efetivamente movimenta nossa conta bancária, nosso bolso, e não apenas um registro “contábil” referente à direitos, obrigações ou provisões, que podem acontecer ou não no futuro.
Apenas à título de informação, quando estamos falando apenas de direitos, obrigações e provisões, adotamos um conceito diferente, que chamamos de “Competência”, ou “Regime de Competência”, porém não vou me aprofundar neste conceito uma vez que não se trata do objetivo deste post.
Após uma definição simples dos dois conceitos acima (caixa e competência), fica claro que estamos tratando do “Regime de Caixa” em nossas projeções financeiras, ou seja, aquele que verdadeiramente afeta o nosso bolso.
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Como estruturar um fluxo de caixa?
Se você nunca projetou sua vida financeira através de um fluxo de caixa, não se desespere, é preocupante, mas ainda dá tempo!
Para elaborarmos um fluxo de caixa, vamos precisar entender alguns conceitos estruturais importantes e básicos, tais como:
- Será necessário adotar, de preferência, uma planilha em excel para automatizar os cálculos e facilitar a entrada de dados;
- Precisaremos definir o horizonte de tempo que queremos projetar, por exemplo, 12, 24 ou 36 meses;
- Ainda em relação ao horizonte, será importante estabelecer a abertura deste em base mensal, trimestral, semestral ou anual;
- Como primeira medida em relação a números, será necessário levantar todos os saldos bancários, posição em caixa e aplicações, para estabelecer a primeira linha do fluxo de caixa – o “Saldo Inicial”;
- Fundamental será entender a diferença e composição das entradas e saídas de caixa que afetam seu fluxo ao longo do horizonte planejado;
- E para concluir esta pequena introdução, vamos fechar com o “Saldo Final”, nada mais do que a soma do saldo inicial com as movimentações de entrada e saída.
Agora que temos conhecimento da estrutura de um fluxo de caixa, vamos começar a definir as linhas que usaremos para detalhar as entradas e saídas, para podermos informar movimentos passados (“Realizados”) e futuros (“Projeções”).
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Detalhamento das linhas do fluxo de caixa
Para iniciar o detalhamento das linhas do fluxo de caixa, recomendo separar as movimentações por grupos, de acordo com sua natureza, isto é, o grupo das “Receitas”, “Despesas”, “Investimentos”, “Financeiro” e “Estrutura de Capital”, para na sequencia podermos relacionar as naturezas que iremos utilizar, de acordo com a particularidade de cada negócio, ou mesmo da visão que se pretenda enxergar.
Abaixo listo as naturezas mais comuns do ponto de vista corporativo, para cada um dos grupos mencionados:
- Receitas – venda de produtos e serviços, custos de produto, impostos atrelados ao processo produtivo e etc.;
- Despesas – folha de pessoal, encargos, benefícios, concessionárias, aluguel, condomínio, impostos, segurança, limpeza, TI, consultoria, treinamento, viagens, seguros e etc.;
- Investimento – equipamentos, máquinas, tecnologia, participação em outras empresas, edificações e etc.;
- Financeiro – receita financeira, juros da dívida, custo de garantias, resultado de operações de hedge, variação cambial e etc.;
- Estrutura de Capital – aporte de capital, dívida bancária, mútuo e etc.
Abaixo um exemplo, de visão do fluxo com abertura de algumas linhas por natureza e grupo, para facilitar a compreensão:
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Trabalhando com diferentes visões e perspectivas de prazo
Idealmente recomendo trabalhar o fluxo de caixa através de duas visões integradas, que se complementam, uma analítica (detalhada ou aberta) e outra sintética (resumida ou fechada).
O mais importante é utilizar uma quebra de linhas que facilite a obtenção de dados passados e permita uma maior assertividade nas projeções futuras, pois com isso ganha-se qualidade e tempo de resposta.
Além das duas visões acima, o fluxo de caixa pode ser analisado sob perspectivas de curto, médio e/ou longo prazo, ou mesmo pela combinação dessas perspectivas, atendendo a aberturas diversas, em base diária, semanal, mensal e anual.
Abaixo alguns exemplos de fluxo, sob as diferentes perspectivas de prazo:
- Fluxo de curto prazo: abertura diária para projeções de até 30 a 90 dias;
- Fluxo de médio prazo: abertura mensal para projeções entre 6 e 12 meses, podendo ser combinado com projeções diárias para os primeiros 30 dias;
- Fluxo de longo prazo: abertura anual para projeções entre 3 a 10 anos, ou mais, dependendo da maturidade do negócio. Em geral se adota o modelo entre 3 e 5 anos, podendo ser combinado com projeções mensais para os primeiros 12 meses.
A atualização e report dos fluxos de caixa, depende do horizonte e perspectiva de prazo que estamos trabalhando, da maturidade e o momento da empresa.
Em geral, fluxos de curto prazo devem ser revisados periodicamente, ou seja, diariamente ou semanalmente, e fluxos de médio e longo prazo com periodicidades mensais ou anuais.
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Técnicas para projeção de caixa
Em relação as projeções, existem técnicas que facilitam uma maior assertividade e melhor tempo de resposta, vejam abaixo algumas delas:
- Análise do histórico – algumas linhas do fluxo de caixa permanecem em níveis razoavelmente constantes ao longo do tempo e podem ser usadas como base para as projeções, por exemplo, salários, desde que não seja um mês atípico, fica muito próximo ao mês anterior, obviamente, dependendo do ritmo de crescimento da empresa (o RH pode ajudar com essa premissa); por outro lado temos que projetar pontualmente as despesas com 13o. salario, bônus e dissídios;
- Razão entre linhas – voltando ao exemplo da folha, podemos avaliar a razão histórica entre encargos e salários, estabelecendo com isso um percentual a ser projetado para o futuro, que estará vinculado ao valor da folha salarial;
- Informações diretamente da fonte – muitas vezes a área responsável pela gestão da informação, é a melhor fonte. Por
exemplo, projeções de volume de vendas e preço unitário (Comercial); investimentos em capex (Engenharia) e; custo da
dívida e fluxo de amortização de principal (Tesouraria).
Bom, agora que já sabemos do que se trata o fluxo de caixa e sua importância para organizar nossas finanças, estamos esperando o que para começar? Portanto mãos na massa!
------Este artigo foi escrito por Maurício Perpétuo.
Administrador de empresas, formado pela UFRJ, com MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC, com mais de 20 anos de experiência na área financeira, com ênfase em tesouraria.
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