*Por Exame.com
Os entraves para que mais pessoas invistam em ações vão muito além do dinheiro necessário: desconhecimento do mercado financeiro, falta de tempo para acompanhar os movimentos da Bolsa e o medo de cometer algum erro são apenas alguns desafios.
Hoje, há 600 mil investidores pessoa física na BM&FBovespa – um número bem inferior ao de brasileiros que optam por aplicações como imóveis e previdência privada, para não falar da poupança.
Mateus Lana virou um dos investidores de ações em 2008, quando a corretora XP Investimentos chegou a sua cidade, Belo Horizonte. “Era uma época em que a Bolsa estava na mídia, e todo mundo queria fazer o mesmo”, conta.
Seu interesse pelo mercado acionário cresceu tanto que ele resolveu empreender no ramo: alguns anos depois, uniu-se aos sócios Felipe Machado, Paulo Gomide e Leonardo Conegundes e pensou em como usar robôs para automatizar aplicações, permitindo que mais pessoas virem acionistas.
Assim começou a Smarttbot, em 2011. Seis anos depois, o negócio já passou por uma série de acelerações e acumulou dois mil usuários cadastrados na plataforma – sendo 300 deles pagantes. Apenas no mês de fevereiro, sete bilhões de reais passaram pelas mãos da startup.
História de negócio
Depois de conhecer a proposta da XP Investimentos em Belo Horizonte, Lana queria se aprofundar mais no tema. Por isso, o estudante de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais decidiu elaborar uma estratégia para seus investimentos por meio de um pequeno programa, feito em VBA (linguagem de programação usada entre programas da Microsoft, como o Excel, no caso).
Porém, logo caiu em simulações que eram limitadas pelo escopo do programa. “O VBA estourou as possibilidades de combinações. Então, comecei a perturbar todo mundo que fazia Computação na mesma universidade”, conta Lana.
“Perturbei até no churrasco de domingo, falando sobre Bolsa. Aí, finalmente me convidaram para dar uma passada no laboratório de Iniciação Científica do curso de Computação. Cheguei na segunda-feira, com a apostila debaixo do braço.”
Os outros três sócios de Lana pretendiam seguir a carreira acadêmica, e fizeram mestrado na área. A pesquisa foi em algoritmos para automatizar o investimento no mercado acionário, e os resultados obtidos com simulações dentro da academia estimularam os empreendedores a abrir um negócio com base nisso. Ao terminarem o mestrado, uniram-se a Lana para fundar a Smarttbot, na incubadora da UFMG, no final de 2011.
O lançamento da primeira versão da plataforma, porém, ocorreu só em 2013. “Ainda não sabíamos como ia funcionar esse modelo de negócio. Mas fomos à Bolsa, compramos a transmissão de cotações em tempo real deles e desenvolvemos nossa plataforma”, conta Lana.
A Smarttbot é, em resumo, um serviço análogo ao “home broker”. O principal diferencial, segundo Lana, é a automatização por meio de robôs-investidores: códigos implementados que recebem e processam os dados do mercado conforme regras pré-estabelecidas pelo usuário, realizando o repasse de ordens para a Bolsa de forma automática.
De acordo com o empreendedor, o robô traz diversas vantagens ao usuário. As operações são executadas mais rapidamente e sem erros humanos; o investidor não é obrigado a acompanhar o pregão 100% do tempo e a fazer suas ordens manualmente; e o algoritmo não cede a humores e oscilações de preços pontuais, que geram estresse em qualquer investidor de ações.
[caption id="attachment_92464" align="aligncenter" width="600"] Tela em que o usuário pode ver as ordens executadas pelo seu robô, na Smarttbot (Smarttbot/Divulgação/Como estes empreendedores querem que qualquer um invista na Bolsa)[/caption]
Outro diferencial da Smarttbot é a navegabilidade por aplicativos e desktop. “O robô roda na nossa infraestrutura. No caso de outras plataformas, o usuário tem de baixar o programa e instalar no seu próprio computador, o que joga a responsabilidade no hardware e na internet dele. É perigoso o robô travar enquanto o usuário está operando. Somos mais simples e somos baseados na web, e conseguimos crescer em cima disso”, explica.
Do Spoleto ao restaurante
Logo no começo, os empreendedores quebraram a cara. “Achamos que todo mundo era nerd que nem nós e gostaria de programar seu próprio robô, e então focamos em vender uma API [conjunto de padrões de programação] para o desenvolvedor programar. Só que esse é um mercado muito pequeno no Brasil”, diz Lana.
Então, o foco mudou: a Smarttbot passou a atender não mais desenvolvedores que investiam, mas sim investidores que procuravam alguém que programasse por eles.
“A gente começou a automatizar os procedimentos, por meio de algoritmos, e pagamos nossas contas. Foi aí que percebemos que o que daria dinheiro mesmo era programar um robô só seu para executar, na nossa plataforma, uma ordem que você planejou”, explica o empreendedor.
O usuário é o responsável escolher uma estratégia; definir critérios de entrada e saída do robô e número de ordens; acrescentar custos operacionais da corretora; simular a atuação desse robô; e, se o resultado for positivo, colocá-lo em modo real e investir na BM&FBovespa. Segundo Lana, esse é um modelo parecido com o da rede de massas Spoleto: cada investidor fala o que quer, e a startup se compromete a executar o pedido com precisão.
[caption id="attachment_92466" align="aligncenter" width="600"] Tela em que o usuário pode escolher como funcionará seu robô, na Smarttbot (Smarttbot/Divulgação)[/caption]
Com o tempo, a Smarttbot percebeu que alguns pedidos eram frequentes. Então, em 2015, lançou estratégias prontas com os indicadores e filtros de riscos mais comuns (veja mais aqui). “Foi o momento em que começamos a escalar: um cliente entrava, configurava seu robô, começava a usar e pagava a gente, sem nunca termos falado com ele antes.”
No ano passado, a startup deu um novo passo nessa mesma direção. Vendo que alguns clientes vendiam suas estratégias em fóruns, sites próprios e no WhatsApp, a Smarttbot criou uma espécie de loja virtual para esses usuários possam vender suas estratégias pelo site da startup.
“Crescemos bem em cima de o usuário contratar nosso serviço, configurar a estratégia dele, torná-la poderosa e vendê-la, seja em qualquer lugar ou no site da Smarttbot, como temos incentivado”, diz Lana. No momento, há dois planos feitos por usuários disponíveis no site da startup, e é preciso disponibilizar um grande histórico de resultados antes de sair vendendo.
“Até então, a Smarttbot servia bem para o usuário que queria montar sua estratégia. Agora, aparece o cliente que quer um robô, mas não entende nada do mercado. Ele só quer botar dinheiro e ver render”, explica o empreendedor. “Então, já oferecemos estratégias mais mastigadas, com históricos, que são aquelas que vendemos para clientes mais iniciantes.”
Nesse sentido, a meta da startup é fazer qualquer um poder investir em ações: desde o estrategista até seus seguidores mais iniciantes. Os últimos precisam pedir algo já pronto, assim como em um restaurante tradicional, em contraponto ao exemplo do Spoleto.
Vale lembrar que a Smarttbot opera apenas por meio de corretoras de valores: ou seja, quem quiser investir pela plataforma como pessoa física terá de se associar a uma corretora, e por aí fazer sua conexão com o mercado financeiro. Algumas corretoras atendidas são Concord, Gradual e XP Investimentos.
Para quem ainda não contratou esse serviço, há um plano gratuito para fazer simulações com um robô, que usa dinheiro virtual de uma corretora fictícia. A startup não se responsabiliza pelas decisões de investimento tomadas ou compradas pelo usuário, e sim pela usabilidade de sua plataforma.
“Por isso, antes de investir, simule. Simule bastante e só coloque dinheiro quando estiver seguro. Não podemos vender milagres: mercado variável tem risco e é seu dinheiro que estará em jogo”, alerta Lana.
“O robô serve para reproduzir a estratégia do cliente, e talvez a estratégia nem seja ruim, mas o mercado esteja em uma época ruim. Tentamos mitigar o risco ao dar a possibilidade de programar um limite diário, semanal ou mensal de perda: quando esse limite for atingido, o robô para de operar.”
Fora o plano gratuito, há os planos Lite (100 reais de taxa por mês e até 10 mil reais investíveis, com 2 robôs operando simultaneamente); Pro (300 reais de taxa por mês e até 100 mil reais investíveis, com 5 robôs operando simultaneamente); e Expert (800 reais por mês e até 400 mil reais investíveis, com 15 robôs operando simultaneamente).
O ticket médio da plataforma é de 260 reais de taxa. Há dois mil usuários cadastrados e 300 pagantes até o momento. Apenas em fevereiro, movimentou cerca de sete bilhões de reais na Bolsa.
Acelerações e planos para o futuro
A primeira aceleração da Smarttbot ocorreu no final de 2014, pouco mais de um ano após o lançamento da primeira versão da plataforma. O negócio foi selecionado para a segunda rodada do programa SEED, do Governo do Estado de Minas Gerais, e estabeleceu sua sede em Belo Horizonte perto do local de aceleração.
Em abril do ano passado, a Smarttbot entrou para a segunda turma do programa de aceleração Inovabra, do Bradesco. A startup passou por homologações de segurança e agora está fazendo um experimento com alguns clientes do banco, que deve se encerrar neste mês.
Poucos meses depois, o negócio também foi selecionado para a primeira turma de residentes do Google Campus, em São Paulo. A ideia é, com o fim da aceleração, manter uma sede na cidade, por ser o centro do mercado financeiro do país.
Em 2016, o negócio faturou 1,6 milhão de reais. Para este ano, a meta é chegar a 5 milhões de reais e ao menos mil assinantes pagantes. Além do desenvolvimento da plataforma e dos planos oferecidos, outra tática é tentar alcançar novos países.
“A ideia é operar com corretoras digitais, focadas em aplicações cambiais. Isso depende de achar alguma corretora que aposte em uma plataforma brasileira, um mercado acionário pequeno, para operar o dinheiro dos seus clientes. Com essa expansão de mercado, talvez venha um investimento.”
*Por Mariana Fonseca da Exame.com
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