*Por Leonardo Dias
Nos últimos anos, uma expressão ganhou espaço no ambiente corporativo: o compliance. Sua explicação até que é simples e refere-se às práticas adotadas pelas empresas para seguirem a legislação e regras internas e externas. Sua aplicação, porém, é que é complexa, fazendo com que o conceito ainda fique restrito às grandes organizações do país. Mas é justamente as startups, que buscam desenvolver produtos inovadores nos mais diversos segmentos, que mais precisam se proteger contra os riscos inerentes à boa gestão.
De acordo com a terceira edição da pesquisa Nível de Maturidade em Compliance nas Empresas Brasileiras, da consultoria Protiviti, 45% das companhias nacionais possuem pouca ou nenhuma prática nessa área – índice puxado sobretudo pelas pequenas e médias empresas. Contudo, outro levantamento, desta vez da KPMG, indica uma mudança de mentalidade importante: das corporações que possuíam métodos de compliance, apenas 9% ainda não tinham estruturado um departamento completo para esse fim em 2017.
As startups nem sempre se preocupam em estruturar essas boas práticas porque passam grande parte de seu expediente validando seus produtos e serviços e verificando a aderência deles no mercado. Além disso, muitos empreendedores também não sabem quais riscos seu negócio pode correr. Entretanto, cada setor tem suas peculiaridades e essas companhias precisam estar atentas. As fintechs, por exemplo, precisam garantir que os dados sejam anonimizados, ou seja, sem identificação de informações sensíveis, e garantir que poucas pessoas tenham acesso a dados de identificação dos usuários. Portanto, para evitar problemas futuros, o tema precisa estar presente desde a concepção da empresa.
Isso começa com a definição clara dos valores que a empresa deseja passar, de maneira que todos os colaboradores compartilhem essas ideias no que se refere ao compliance. Aqui trata-se não apenas da relação entre os colegas de trabalho, mas também na relação da própria organização com seus fornecedores e clientes. É preciso que todos os processos tenham uma ética estabelecida, para que nada possa surpreender depois, como ações judiciais trabalhistas ou cíveis. Até porque os riscos são enormes. Uma indenização pode levar a startup à falência. Portanto, antecipe-se ao problema e crie uma cultura ética desde o início.
A boa notícia é que a tecnologia também é uma aliada nessa questão. Ela ajuda a entender se os dados são sensíveis ou não e a compreender, de maneira clara, a origem deles. Ferramentas de governança, como o Collibra, são essenciais para auxiliar no entendimento da linhagem, auditar métricas e promover uma melhor compreensão das informações. Já equipamentos como câmeras inteligentes e sensores baseados em IoT (Internet das Coisas) protegem a propriedade intelectual da companhia e identificam quem tem acesso aos dados mais importantes.
Em um mundo cada vez mais conectado e com abundância de informações, tanto as grandes quanto as pequenas empresas precisam estar alinhadas ao compliance e seguir as melhores práticas de gestão. A União Europeia, por exemplo, já lançou uma regulamentação geral para proteção de dados – o que mostra que a privacidade e transparência serão normas em um futuro próximo. Quem não se adequar ficará para trás no competitivo mundo dos negócios.
* Leonardo Dias é CDO e cofundador da Semantix, empresa especializada em Big Data, Inteligência Artificial, Internet das Coisas e Análise de dados.
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