Não leva ovo, não leva manteiga e não leva leite. No entanto, tem este aspecto.
A Pastelaria Batalha lançou esta semana o seu novo bolo-rei vegan. E é claro que esta pobre boca faminta não podia ficar em casa de pernas esticadas e braços cruzados. Enquanto metade do país se digladiava para aproveitar os descontos da Black Friday, eu coloquei o meu melhor e insuspeito bigode (ou terão sido umas patilhas ribatejanas?...) e dirigi-me até ao Largo Camões, em Lisboa, para experimentar a mais recente novidade do mundo vegan.
Cá em casa, ainda ninguém é vegan. Mas tudo o que misture criatividade e cozinha, é para mim um desafio irresistível de provar. E por isso voltei para casa com um fantástico e espampanante bolo-rei e um tentador bolo-rainha. Tudo sem ovo, manteiga, leite ou qualquer outro ingrediente de origem animal.
Mas, antes de falar, não há nada como provar. Primeiro, o bolo-rei vegan, vendido a €14,90/kg, o que, nos dias de euforia económica que correm, é uma verdadeira raridade digna do Vítor Gaspar.
É servido com uma razoável combinação de frutas cristalizadas das quais sobressaem umas rechonchudas ginjas e uns anafados figos. Mas melhor do que a variedade é a textura das frutas cristalizadas. Besuntadas com uma boa camada de calda de açúcar por fora, as frutas ficam crocantes no exterior. Os figos cristalizados – claramente os meus favoritos – estavam quase estaladiços na casca, como se levassem uma finíssima capa de caramelo queimado digna do melhor leite creme do planeta.
Além disso, ao trincar as frutas nota claramente o sabor do álcool onde foram embebidas. E isso foi para mim o melhor deste bolo-rei. Tanto na cobertura exterior e nas frutas cristalizadas de fora como no interior húmido e fofinho do bolo, sente por todo o lado uma fabulosa combinação de licores e Vinho do Porto. É um sabor único e forte, onde se sente o açúcar dos licores cortado pelo toque ligeiramente picante do álcool. Não sei quais os licores usados aqui, mas este sabor delicioso torna o bolo-rei numa maravilha irresistível e ainda lhe dá uma textura molhadinha.
Também é este sabor especial que ajuda a ultrapassar o facto de não ter visto um único pinhão nas três fatias de bolo que devorei. Nem uma meia noz inteira do lado de fora. Na sua maioria, os frutos secos estavam resumidos a pedaços de amêndoa no exterior e nozes picadas no interior. A mim, faz-me falta aquela variedade luxuosa de futos secos do bolo-rei da Garrett, no Estoril, onde parece que os pinhões saltam de todos os lados. Mas o sabor da combinação de licores faz-me ultrapassar qualquer falha neste bolo-rei.
Já no bolo-rainha (€17,90/kg) senti mais a poupança de frutos secos. Pareceu-me ligeiramente mais seco do que o bolo-rei no interior e menos saboroso no exterior. A deliciosa mistura de licores não se nota tanto e por isso o bolo acaba por ser menos húmido, especialmente por dentro. Além disso, um bolo que se baseia nos frutos secos não pode dispensar com toda essa facilidade os bons e ilustres pinhões. Nem as meias-nozes por fora. Tudo isto para grande tristeza da minha querida Mulher Mistério que só gosta de bolo-rainha, porque ainda não descobriu a beleza de uma boa fruta cristalizada.
Um óptimo bolo-rei vegan para si onde quer que esteja,
Ele
fotos: casal mistério
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