Precisamos falar de urgentemente sobre ética em UX e Design

Um dia eu estava assistindo a um vídeo da Rita von Hunty. Nesse vídeo a dragqueen fala sobre o impacto da escolha, e questiona se temos alguma agência em cima de nossas escolhas, na vida bem como no consumo.

Sabemos que design ganha destaque num cenário capitalista (Denis em uma ‘Introdução ao Design’ define em algumas páginas o escopo do que é design e começa a linha do tempo pela industrialização, assim como Hollis em ‘Design gráfico: uma história concisa’. Ambos começa a história do design por volta do século 18 e 19).

Ouvindo isso eu fiquei muito reflexivo sobre meu trabalho como designer. Ao estudar experiência de usuário você percebe que é muito mais que uma simples construção de tela. Nós aprendemos a modelar um fluxo brincando com gatilhos mentais e emocionas por meio de modelos mentais das pessoas que vão usar nossos produtos, psicologia aplicada e (não atoa que é esse nome) programação neuro-linguística. E esses gatilhos são usados para reforçar os modelos de consumo do próprio capitalismo.

Criado pelo autor

E quando esses gatilhos dão errado? Me pergunto quem é responsável pelos ônus de projetos que atacam diretamente esses gatilhos. Imagine comigo, um engenheiro ou arquiteto que projete mal e cause a morte ou algum acidente de alguém, será reconhecido e punido pelas escolhas profissionais que ele fez. Nessa mesma ideia, sobre quem cai a culpa de escolhas que impactam toda uma geração de pessoas, eu me lembro em uma palestra da Bianca Brancaleone em que ela falava sobre o modelo hook, algo tipo a mecânica caça-niqueis (pull-to refresh) desenvolvida por Loren Brichter e patenteada pelo Twitter? Não é estranho que os grandes CEOS dessas redes sociais limitem o acesso aos seus filhos, mas quem limita para você que é usuário? Alias, o seu uso é incentivado por esses mesmos gatilhos emocionais.

Modelo hook ou Anzol em português — Imagem Criado pelo autor

Dentro do meu cenário pouco se fala sobre ética e design, e eu tenho medo que isso seja igual nos outros espaços também. A matéria ética do design noa minha formação se tinha um foco a o registro de marcas no INPI (espremendo bastante)dai muitos profissionais ingressam o mercado sem o senso-crítico, assim como eu entrei. Discussões ético/profissional se torna mais complexo sobre tecnologias e temas inovadores que geralmente caminham um pouco atras do próprio desenvolvimento da coisa (tipo machine learning e a reflexão de como o algoritmo é produto derivado de quem o cria) é difícil falar do impacto de algo, quando ele ainda nem se estabeleceu.

Se complica mais quando o assunto é falar de responsabilização no campo de design, a profissão já perambulou bastante para sua regulamentação e acabou não indo para frente, sem falar na própria polêmica em se regulamentar ou não. No mercado o design tem suas práticas idealizadas, enquanto o profissional não possui qualidade de emprego, no gráfico então nem se fala… Salários baixíssimos que só pioram com a possibilidade do oficio poder ser realizado por qualquer um (literalmente qualquer um).

Releitura de ‘Beat the Whites with the Red Wedge’ — El Lissitzky

Solução? Eu mesmo não sei como proceder? É muito difícil pensar em qualquer saída quando vivemos preocupados com nossos empregos, com a crise do corona, com o exército de substituição a pronta-entrega para substituir-nos. Tudo que eu consigo fazer é pensar sobre. o questionamento é um primeiro passo, o segundo talvez, seja conscientizar quem consome? Quando isso vai acontecer? Eu não sei.


Ética e Ux? was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.



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