UX e economia comportamental — um estudo de caso

UX e economia comportamental — um estudo de caso

O que é, e como você pode usar ferramentas da economia comportamental em interfaces

UX&BE: Experiência de Uso e Economia Comportamental

A ideia desse texto é mostrar como aplicamos conceitos da Economia Comportamental na construção de um produto. O foco é mostrar o método comportamental usado, logo, detalhes sobre processos e ferramentas de design e produto, que estamos acostumados a usar, não serão descritos.

O projeto teve 4 semanas de duração, nessa primeira fase.

Nota: As fotos, nomes, números e demais conteúdos que aparecem no protótipo, não são reais. Foram usados apenas para desenho ilustrativo da plataforma.

Antes de começar a falar sobre o processo,

_

O que é Economia Comportamental

  • É uma linha de investigação científica que perpassa dois campos, da Psicologia e da Economia;
  • “É uma ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre recursos limitados e desejos ilimitados que têm usos alternativos” - Lionel Robbins;
  • Realiza estudos relacionando influências sociais, cognitivas e emocionais que regem o comportamento.

_

Para que serve

  • O estudo dessa área disponibiliza uma série de novas ferramentas que frequentemente permitem o alcance dos resultados almejados com menos custos ou menos efeitos colaterais, quando comparados com os conseguidos por meio da tributação ou da regulação;
  • A Economia Comportamental busca embasar de forma empírica/observação (e experimentalmente) os achados da Economia e princípios sobre o comportamento;
  • Se propõe a revisar, testar e aprimorar premissas sobre comportamento humano que embasam as teorias econômicas.

_

Como pode nos ajudar

  • O uso das ferramentas da Economia Comportamental ajuda a entender como os indivíduos tomam as suas decisões com base em emoções, sentimentos e hábitos;
  • A entender o porque temos dificuldades de estabelecer relações de benefício a médio e longo prazo porque temos vontade de satisfazer desejos do momento atual/agora.

Mais sobre Economia Comportamental, aqui.

Pronto, podemos seguir.

O projeto

“Somos uma empresa com foco em impacto social que existe para auxiliar prefeitos, secretários e técnicos a transformarem as administrações públicas municipais em organizações mais eficientes. Acreditamos que gestores públicos comprometidos podem utilizar nossa tecnologia e metodologia para aumentar a eficiência das administrações públicas e obter mais recursos, melhorando a qualidade dos serviços públicos oferecidos ao cidadão”.

Atualmente a empresa oferece serviços que auxiliam as prefeituras e secretários, porém, esses serviços atendem parcialmente suas necessidades.

Não falarei sobre os serviços atuais para não alongar demais o texto.

Definimos um objetivo:

  • Entregar um serviço completo que atenda as necessidades do dia a dia dos secretários e prefeituras;
  • Estudar os atuais comportamentos envolvidos e utilizar ferramentas de economia comportamental para gerar mais engajamento dos secretários com a plataforma.

_

Etapa de entendimento
Antes da minha chegada, o time já havia feito várias entrevistas com os secretários das prefeituras para entender suas necessidades diárias, e usamos esse material como base para dar início aos trabalhos.

Alguns achados:

  • Falta de conhecimento sobre orçamento financeiro;
  • Não conseguem controlar os gastos;
  • Secretarias não são sensibilizadas e não são engajadas;
  • Grande frequência de solicitação de informação;
  • Fluxo de comunicação desordenado e feito por WhatsApp.

Depois de definir os objetivos da empresa e consolidar os achados, vamos dar uma olhada na parte comportamental.

_

Método comportamental utilizado
Kahneman e Tversky em Behavioral Economics, visto em Fernandes (2010, p. 30)

1º Identificar hipóteses; 2º Identificar anomalias; 3º Usar as anomalias; 4º Construir modelos econômicos de comportamento
Montei essa forma para representar do método e ajudar o entendimento de cada etapa. Na referência do autor, o texto é corrido.

1. Identificar hipóteses

  • A plataforma atual não atende as necessidades dos secretários;
  • Os secretários responsáveis não usam a plataforma;
  • As análises atuais são confusas e difíceis de entender;
  • Ausência de feedbacks durante a navegação;
  • Inconsistência de padrões;
  • Excesso de filtros.

2. Identificar anomalias

  • Insensibilidade aos números;
  • Falta de hábito;
  • Inércia;
  • Status quo;
  • Comportamento manada.

3. Usar as anomalias como inspiração

  • A insensibilidade a números dificulta o entendimento e pode colocar as pessoas em estado de paralisia, um possível motivo para o não-acesso;
  • As análises/conteúdos precisam ser relevantes e para atender as necessidades diárias das prefeituras. Isso pode ajudá-los a saírem da inércia, status quo e até criar hábito de acesso;
  • Uma vez que outros não usam, eu não tenho porque usar (comportamento manada).

4. Construir modelos econômicos de comportamento

  • A insensibilidade a números pode ser reduzida se fornecermos análises amigáveis com informações simplificadas;
  • Fornecer status e permitir gestão das oportunidades em andamento e ter dados atualizados em tempo real pode criar o hábito de acesso;
  • Mostrar times e pessoas envolvidas na execução das tarefas, facilitar o acesso e compartilhamento das informações pode mudar o status quo, tirar da inércia e até gerar um comportamento manada. Todo mundo vai querer fazer/usar.

_

Testando as hipóteses

  • Teste de entendimento das análises;
    Como foi feita a pergunta: “O que você entende por 'quadro comparativo do orçamento realizado e previsto’? O que você acha que é essa análise?”.
  • Priorização das análises por nível de importância e necessidade;
    O próximo passo foi mover balões com os nomes para o centro do alvo de acordo com a importância/necessidade.
  • Teste de compreensão das análises gráficas;
    Antes da apresentação do protótipo, perguntamos: Pra você, o que é ‘quadro comparativo do orçamento realizado e previsto’? O que você espera encontrar nessa análise?

_

Protótipo
No protótipo a seguir apresento o resultado e as aplicações das hipóteses que foram levantadas e testadas.

Mostrar times e pessoas envolvidas na execução das tarefas, facilitar o acesso e compartilhamento das informações pode mudar o status quo, tirar da inércia e até gerar um comportamento manada. Todo mundo vai querer fazer/usar.

Antes, Juliana, nossa persona, não sabia quem estava usando a plataforma. Nossa hipótese é de que por ela não ter essa percepção de uso dos companheiros, ela também não se sente motivada a usar.

Para combater esse efeito, invertemos a situação. De acordo com a teoria, Juliana deve continuar seguindo os companheiros, só que agora para algo que irá trazer benefícios para ela e os demais secretários.

Tela de gestão de times mostrando os times e os colaboradores que fazem parte do time.
Versão da tela de times atuantes na gestão pública da prefeitura.
A insensibilidade a números pode ser reduzida se fornecermos análises amigáveis com informações simplificadas;
Fornecer status e permitir gestão das oportunidades em andamento e ter dados atualizados em tempo real pode criar o hábito de acesso.

Os conteúdos e análises são apresentados de forma simples, objetiva e está disponível a qualquer momento e na hora em que ela precisar. Nossa hipótese é que dessa forma a insensibilidade a números pode reduzir e até criar um hábito de acesso e consumo das informações.

Outra hipótese é que permitir que os secretários façam a gestão das oportunidades em andamento e ter dados atualizados em tempo real também pode ajudar na criação do hábito.

Tela de histórico de receitas realizadas com números e destaques que ajudam na gestão pública
Versão da tela de execução orçamentária/receitas da gestão pública da prefeitura.

_

Teste de usabilidade

  • Durante o processo de apresentação das análises, fizemos perguntas sobre como ele poderia chegar em determinada análise e a compreensão conforme descrito acima.

_

Teste dos modelos de comportamento

  • Não houve tempo hábil para testar as hipóteses de comportamento. Esse é um processo mais longo e demorado que falarei mais em outro texto.

Conclusão

Como dito no início do texto, o projeto teve duração de 4 semanas e nosso objetivo era atender as necessidades dos secretários e prefeituras, objetivos de negócio, estudar comportamentos envolvidos e usar ferramentas da Economia Comportamental para gerar mais engajamento e uso da plataforma.

Nosso processo:

  • Objetivos de negócio;
  • Necessidades dos secretários e prefeituras;
  • Modelo de análise comportamental;
  • Teste de compreensão de conteúdo e análise;
  • Protótipo;
  • Teste de protótipo;
  • Teste dos modelos de comportamento (esse não foi feito em função do cronograma).

Esse material não é um guia, e sim uma demonstração de como combinamos as ferramentas que, como UX Designers, estamos acostumados a usar com as da Economia Comportamental.

Atualmente estou fazendo um MBA em Economia Comportamental e essa foi a primeira vez que usei os conhecimentos e aprendizados em um projeto. Existe um longo caminho a ser percorrido.

A ideia é compartilhar esses aprendizados e em breve estarei de volta.

_

Ferramentas e links

_

Time: Anna Diniz, Heber Alvares, José Rodolfo e Ricardo Ramos

_

Obrigado, Camila Teixeira pela parceria que vai além do nosso curso e pelas contribuições nesse texto. Muito agradecido!


UX e economia comportamental — um estudo de caso was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.



from UX Collective 🇧🇷 - Medium https://ift.tt/31cG3ey
via IFTTT

Comentários